No comboio, nas ruas e no ar: eis Pedro Nuno, socialista e candidato a Pop Star

Entre os camaradas é uma estrela. Os homens carregam-no em ombros e as mulheres acarinham-no ferozmente. O líder do PS está a dar tudo nesta campanha. Vibra com as multidões que o louvam, mas no final de um dia longo confidenciou ao Polígrafo: "Não vejo a hora de chegar a Lisboa para voltar a estar com o meu filho."

Pedro Nuno Santos

Foto @ Ricardo Meireles

Foto @ Ricardo Meireles

Pouco passa das 8h da manhã do último sábado de campanha, dia 2 de março, quando o secretário-geral do Partido Socialista, eleito há precisamente 77 dias, veste a roupa que ficará consigo o dia todo - um blazer azul escuro regular fit e uma camisa azul bebé, coberta por um pullover que só hoje saiu do armário - e que para lá voltará assim que o sol aparecer.

Fará pelo menos 400 quilómetros nas próximas horas: depois de uma visita-relâmpago a Bragança e Mirandela, segue para o Porto. De barba impecavelmente aparada, recostado no banco traseiro de um BMW 620d preto, estará por momentos imune ao ruído produzido pelas dezenas de bombos que transformam num projeto adiado qualquer tentativa de diálogo entre os militantes que naquele instante já povoam o Pavilhão Rosa Mota . É lá que vai encontrar amigos e camaradas, com quem tem marcada uma festa-comício que promete ser a maior do período de campanha.

Do lado de fora da cúpula, obra do arquiteto modernista José Carlos Loureiro, começam a juntar-se os primeiros “jotinhas". Fumam tabaco aquecido e bebem finos super bock. Num exercício de descontração, um grupo com as quotas (de género) em dia - três raparigas e três rapazes - diverte-se a avaliar a evolução do aspeto físico do seu líder. O "novo" Pedro Nuno consegue uma maioria absoluta: "Está melhor”, determina o concílio instantâneo, apenas colocado em causa pelo jovem menos jovem do grupo. Com a autoridade conferida pelos seus 32 anos democraticamente distribuídos por 1,92m, o dissidente é definitivo: “Não aprecio homens.”

— Ultimamente a sua imagem tem sido muito comentada, mas noto que não tem usado acessórios na campanha. Deixou o Rolex em casa?
“Não, não tenho nenhum Rolex [risos]. Nunca fui muito de relógios”.
E botões de punho?
“Não. Não tenho pulseiras, não tenho anéis, não tenho relógios.. não tenho brincos [risos].”
Troca os sapatos por sapatilhas assim que entra no carro?
“Não. Estou sempre de sapatos.”

As avaliações e dilemas prosseguem entre os jovens: se tivessem de escolher entre Pedro Nuno Santos e António Costa, o que fariam? Uma vez mais, Pedro Nuno recolhe a simpatia maioritária - desta vez em poucos segundos. Ainda há quem tente sugerir que é difícil optar por um - "são diferentes". Sim, são diversos - e um Pedro Nunista explica porquê:

- “O Pedro tem uma capacidade diferente para… para não engonhar”.

Todos os presentes têm a noção de que o Primeiro-Ministro é importante para a campanha: é o “melhor desde o 25 de Abril”, como se ouviria mais tarde dentro do pavilhão, mas é o “esquerdista” Pedro - em contraste com António, o “conservador” - que faz sucesso entre quem ambiciona um PS renovado.

António Costa passara a manhã em Roma, junto a Olaf Scholz e a Pedro Sánchez, no congresso do Partido Socialista Europeu. Nos dias que correm, Pedro Nuno dificilmente trocaria de lugar com ele. Está a dias de cumprir o seu sonho. O estatuto de "jovem turco" do partido já é passado. Na noite eleitoral de 10 de março estará a pouco mais de um mês de completar 47 anos, a maioria dos quais alimentados pela ilusão de que chegaria o dia em que também ele se sentaria na cadeira que já foi ocupada por figuras tão marcantes como Mário Soares, Jorge Sampaio, António Guterres e António Costa.

Todos os presentes têm a noção de que o Primeiro-Ministro é importante para a campanha: é o “melhor desde o 25 de Abril”, como se ouviria mais tarde dentro do pavilhão, mas é o “esquerdista” Pedro - em contraste com António, o “conservador” - que faz sucesso entre quem ambiciona um PS renovado

A entrada de Costa, às 18h51, é apoteótica. Possivelmente seguro de que não provocará uma azáfama, Costa entra numa das portas principais, vira imediatamente para um dos corredores-atalho e caminha freneticamente junto ao palco e à primeira fila, onde se senta. Problema: jornalistas, operadores de câmara, amigos e militantes enchem o espaço que António e Fernanda - a sua mulher - ocupariam sozinhos. Resultado: a primeira fila, reservada a portadores de deficiência (e ao núcleo-duro do PS), é completamente abalroada.

Com Costa já acomodado, os olhos e ouvidos da multidão já se encontram noutra frequência. Pedro Nuno, o rebelde com causas que tantos embaraços lhe provocou no Governo, está prestes a chegar.

"Vem aí a Cristina Ferreira"

Foto @ Ricardo Castelo

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As conversas junto ao bar, onde uma máquina barulhenta tira cafés há demasiadas horas, passam rapidamente de audíveis a inaudíveis. Não muito longe, uma confusão toma conta do espaço em torno da porta principal.

 - “Quem é que vai entrar, afinal?”, pergunta um dos militantes encostado ao corredor de saída, onde ainda há pouco um homem assistia, atento, a um jogo de futsal no telemóvel.
- “É a Cristina Ferreira”, ironiza um dos amigos.

A sensação é parecida: às 19h04 o pavilhão onde há cinco meses tocaram os The National, banda de indie-rock que Pedro Nuno teria apreciado ver, parece pequeno para tanta gente. É ele que aí vem, já sem pullover, visivelmente cansado, notoriamente rouco. Está confortável, joga em casa. Naquele microcosmos não ouvirá os apupos e vaias com que já teve de lidar noutros cenários da campanha. Neste momento corre outro tipo de riscos: o de ser energicamente beijado na face ou sorrateiramente apalpado em locais pouco ortodoxos. Mas nem disso se protege. Está habituado: é um natural, diria mais tarde ao Polígrafo.

Como é que se tem sentido nas ruas? Lida bem com os abraços e com os beijos?
“Sim, não me custa nada. Dá-me gozo estar com as pessoas e abraçá-las. O carinho tem sido imenso. Faço isso com muito gosto.”
Já teve algum episódio mais caricato além do recente arremesso de um vaso em Guimarães…
“Não. A campanha tem corrido bem. Às vezes sinto-me é arrastado.”
É um recado aos jornalistas?
“Não, não… Sinto-me arrastado nas arruadas. Tanta gente, tanto aperto… às vezes somos arrastados.”

As próximas duas horas serão prova disso: vai confidenciar com António Costa, será abordado por centenas de pessoas e elevado acima do seu partido – literalmente, uma vez que, num momento particularmente eufórico, o seu corpo de 1m88 foi gloriosamente erguido aos céus por um enérgico grupo de apoiantes, num aparatoso exercício apenas possível de concretizar graças à abnegação militante de pelo menos cinco pares de braços estrategicamente colocados na cabeça, nas escápulas, na lombar, nas coxas e nos pés de um líder que está por tudo.

"Confiem em mim, confiem em nós, não vos vou desiludir”. São 21h em ponto quando Pedro Nuno termina o último discurso da noite. Há muito que, frente à mesa reservada para os jornalistas, saem filas de pessoas, umas atrás das outras, enquanto o líder fala. Levam bifanas embrulhadas em papel alumínio, bandeiras a servir de bengalas e os casacos já meio vestidos, uma manobra para poupar tempo. À medida que as cadeiras ficam vazias, a temperatura baixa consideravelmente. Provavelmente Pedro Nuno devia ter trazido o pullover que vestiu de manhã quando saiu de casa. Lá fora, é difícil ficar indiferente ao cheiro intenso a marijuana.

Está confortável, joga em casa. Naquele microcosmos não ouvirá os apupos e vaias com que já teve de lidar noutros cenários da campanha. Neste momento corre outro tipo de riscos: o de ser energicamente beijado na face ou sorrateiramente apalpado em locais pouco ortodoxos. Mas nem disso se protege. Está habituado: é um natural, diria mais tarde ao Polígrafo

Queria chegar a São Bento, mas ficou pelo caminho

Foto @ Ricardo Castelo

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São 08h43, dia 4. É o 9º da campanha e o 2º em que o Polígrafo acompanha o líder dos socialistas. Enquanto o “ministro dos comboios” não chega, a galhofa é total: frente à carruagem parada na linha do Douro - a “casa de partida” é Marco de Canaveses - tudo se assemelha a uma visita de estudo. Os jovens que ali se juntam ainda não sabem se vão precisar de um bilhete para a viagem e isso está a chateá-los. A indignação, porém, não dura muito. É dia de festa.

Às 9h03 chega, impecavelmente vestido em look monocromático e coberto por um casaco impermeável Montecore navy-blue, de fabrico italiano, o líder do PS. Dentro de 10 minutos vai trocar o seu fiel BMW por uma automotora da série 3400. E os 190 cavalos por locomotivas que circulam a um máximo de 140km/h em poucos troços ao longo da linha. Antes de entrar, um conselho: “Ó Pedro, não te esqueças de dizer que foste tu que abriste os CTT.” Mas ali, onde em 2021 foram investidos 775 mil euros nas obras junto à estação, nem tudo é um sucesso: Cristina Lasalete Vieira, presidente da concelhia do PS de Marco de Canaveses, sabe-o e faz questão de o transmitir a Pedro Nuno. Pelo caminho, já dentro da locomotiva, a dupla tenta sacar elogios à obra feita: “Devia haver mais horários”, responde, curto e grosso, uma das muitas pessoas apanhadas de surpresa pela enchente.

O líder do PS está bem disposto: depois de garantir aos jornalistas que o seu destino é “São Bento”, um trocadilho com a última estação da viagem, é-lhe oferecida uma caixa com mais de uma centena de “Bolinhos de Amor”, tipicamente vendidos nas feiras. Para acompanhar, um copo de vinho do porto caseiro. “Camaradas, quem é servido?” São 9h23. Pedro Nuno ainda brinca com os fotógrafos, que insistem em captar a sua postura descontraída, própria de quem já comia qualquer coisa: “Começam logo a disparar”, reclama. Mas imediatamente atrás de si, onde há pouco se tentara iniciar, sem sucesso, um cântico à capela, passa-se algo muito mais interessante: uma freira está a ser alvo de uma feroz tentativa de conversão ao socialismo.

“Sente-se aqui irmãzinha, que eu vou-lhe pedir votos”

Quando acordou esta manhã, Maria Emília não podia imaginar: mal entrasse na carruagem com destino ao Porto, seria "convocada" por duas convictas de "São Pedro Nuno". “Sente-se aqui irmãzinha, que eu vou-lhe pedir votos.” A “irmãzinha” obedece - e não voltou a ter descanso. Falam de milagres (da ferrovia), de multiplicação (do salário mínimo nacional) e da cura do cego (aquele que crê na AD). A freira ouve, mas raramente responde. Não quer bandeiras, nem flyers, nem pins para adornar o hábito. Esta irmã está noutra. 

O que é que gostava que as pessoas soubessem sobre si que ainda não sabem?
“Eu acho que as pessoas, ao longo desta campanha, conseguiram conhecer-me melhor. Isto é: a pessoa que sou para lá do político. Muitas vezes apareço em modo de combate e passo uma imagem diferente daquilo que sou como pessoa. Foi bom dar o conhecer os dois lados: o político e o homem, o ser humano. Não acho que haja nada que as pessoas não conheçam.”

Nada? Não diga isso…
“Não, claro… nunca ninguém sabe tudo sobre nós a não ser nós próprios. Às vezes nem isso. Mas hoje as pessoas conhecem-me muito melhor.”

E acha que isso é benéfico?
“Eu acho que sim, mas posso estar enganado. Aí já não dá para fazer o fact-check [risos].”

Foto @ Ricardo Castelo

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Na primeira ronda que faz às carruagens, Pedro Nuno Santos não tem como duvidar da sua popularidade, mas ainda não encontra obstáculos de maior: uma vez mais, só precisa de proteger os lábios e restantes geografias corporais do entusiasmo crescente das mulheres de meia-idade que por ali circulam. É por elas que é frequentemente travado. Com os homens, a conversa é outra: mais prolongada – e, sobretudo, bem mais pacífica.

Enquanto Pedro Nuno tenta sobreviver à confusão, os organizadores... organizam: “Vai passando a mensagem (...) na Afurada não pode ser assim [punho fechado], tem que ser assim [mão aberta com os cinco dedos levantados]”. O escandaloso resultado do Porto-Benfica na noite anterior importa a uns, mas não a todos. Há mesmo quem pareça desconhecê-lo: do lado de fora do comboio, um dos “fanáticos” grita “PS” enquanto levanta dois – e não cinco - dedos.

- “Fecha a mão, pá!”, diz-lhe um dos autores da ideia.

- “É ‘V’ de ‘vitória’”, justifica-se dentro da carruagem.

O ar dentro do veículo é já irrespirável e o barulho torna-se incomodativo: encostados à estrutura metálica branca e amarela, dois homens traçam cenários sobre a desejada maioria absoluta. E, para isso, até equacionam uma coligação com... os liberais. Demorará pouco até que a confusão entre as figuras de Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, e Rui Tavares, do Livre, seja esclarecida e posteriormente interrompida pela chegada de Pedro Nuno Santos.

O líder do PS está bem disposto: depois de garantir aos jornalistas que o seu destino é “São Bento”, um trocadilho com a última estação da viagem, é-lhe oferecida uma caixa com mais de uma centena de “Bolinhos de Amor”, tipicamente vendidos nas feiras. Para acompanhar, um copo de vinho do porto caseiro. “Camaradas, quem é servido?”

O líder do PS está pronto para a segunda ronda de cumprimentos. Estaria igualmente preparado para o primeiro contratempo? “Vocês é tudo a roubar. Andei 40 anos a descontar para agora ganhar 300 euros”, vocifera João Baptista, 65 anos e óculos escuros a compor um visual amplamente arrojado. Surpreendido, Pedro Nuno vai à luta – e socorre-se de uma arma clássica dos socialistas: o aumento das pensões verificado nos últimos oito anos de governação.

Apesar do aparato, o episódio é rapidamente ultrapassado - há caminho a percorrer. O líder seguiu em frente, mas a indignação de João Baptista não saiu do lugar: “Se eles mentem? É com os dentes todos. A gente não pode acreditar em nada”, afirma ao Polígrafo. Define-se como comunista - embora não consiga explicar porquê.

O escrutínio diário do Polígrafo obriga-o, de alguma forma, a ter mais atenção à informação que transmite?
“Isso temos sempre. Não quer dizer que às vezes não falhe alguma coisa, mas no meu caso não é com a intenção de enganar. Às vezes estamos errados, às vezes não sabemos. O vosso trabalho coloca-nos numa situação de maior cuidado ainda, para termos a certeza de que não estamos a dizer nada que depois nos seja atirado”.

Pedro Nuno garante que não mente, pelo menos com má-fé. Quem seguramente não o faz são os ponteiros do relógio. O comboio chega quatro minutos atrasado à estação de Campanhã,  onde um taxista enfurecido pelo amontoado de gente se vai recusar, dali a minutos, a parar o carro numa passadeira para que a caravana avance. Nem os gritos de indignação o fazem travar: o carro verde-escuro chega mesmo a colar-se aos corpos de três ou quatro pessoas: está impaciente, quer seguir caminho.

Pedro Nuno passa ao lado do incidente. A campanha não pode parar. 

Foto @ Ricardo Castelo

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Lola, socialista "até morrer"

O líder do PS observa atentamente quem o rodeia: parece fazer raio-x aos camaradas. É por isso que sabe que acaba de se juntar a ele Manuel Pizarro, o ainda ministro da Saúde. Por momentos, a compostura que lhe é conferida pelo blazer e pela gravata que ostenta é atropelada por uma reação abrupta ao incómodo que aparentemente lhe provocou a multidão presente num beco estreito das ruas da Afurada: “Não empurrem”, grita o governante, para um segundo depois regressar ao modo-campanha. E abre-se num sorriso impecavelmente luminoso. Afinal de contas, as sondagens viraram: nesse dia o PS vai na frente. A alegria do partido é indestrutível e Pizarro não quer prolongar o momento de anti-clímax.

Entre sábado e hoje alguma coisa mudou: estão visivelmente mais animados. É culpa das sondagens?
“Não. Não são as sondagens. Nós estamos animados porque as coisas nos estão a correr bem…”
Mas hoje estavam especialmente animados.
“Porque o ambiente… quer dizer, nós temos as nossas [sondagens] internas, mas não é por isso. É porque o ambiente é bom. As pessoas estão entusiasmadas, estão animadas. E nós sentimos isso na rua, nos sítios onde vamos. Isso contagia-nos. Estamos entusiasmados, ainda bem que é assim.”

Naquela vila de pescadores em Gaia, os sorrisos imperam. Na porta aberta onde Lola, conhecida por todos os que passam na Rua 27 de Fevereiro, se apresenta de camisa de dormir, robe e pantufas, Pedro Nuno receberá mais do que provavelmente esperava: ao sorriso, a idosa de 74 anos acrescenta um beijo caloroso e um abraço apertado.

Num cântico prolongado, que provoca o riso dos distribuidores de canetas e bandeiras presentes, Lola faz questão de partilhar democraticamente o seu entusiasmo: “Socialismo, socialismo, socialista até morrer.” O fanatismo foi-lhe passado pelo pai. A filha limita-se agora a cumprir a profecia. Lembra-se bem de Mário Soares, com quem também vibrou naquelas ruas, num tempo em que falar em alianças com outros partidos era um tema tabu: “Se o meu pai me visse com alguém do PSD, estava feita.”

Foto @ Ricardo Castelo

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Contra todas as expectativas, não é reformada: “Nunca dei nada ao Estado. Mas ele também nunca me deu nada a mim.” Nem pode ouvir falar de Pedro Passos Coelho. E do Chega? “Não, do Chega não… Eu sou PS. Sou PS até morrer”. E prossegue a cantar - “Socialismo… Socialismo…” - até ser envergonhada por uma vizinha: “Passa aqui o PS e ela de camisa [de noite].” 

É no “Norte”, escreveu Miguel Esteves Cardoso, que estão as “raparigas” que “têm o ar de quem sabe o que estão a fazer”. Lola vota PS desde que pode. Pedro Nuno Santos percebe que não precisa de seduzi-la – e limita-se a deixar-se levar.

Foto @ Ricardo Castelo

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A manhã está a chegar ao fim. É tempo de o líder do PS subir a uma varanda. Quer mostrar aos gaienses que sabe como se faz campanha de rua. Cá em baixo, um homem destaca-se entre as centenas de presentes. Usa uma boina, devidamente ornamentada com um pin da bandeira de Portugal. Já foi socialista. Hoje é um saudosista. “Corrupto”, como ironicamente se auto-denomina em declarações ao Polígrafo, acredita agora que “liberdade a mais não nos leva a lado nenhum". E aconselha: "Memorize o que eu digo.”

Foto @ Ricardo Castelo

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Abana a cabeça - como quem rejeita tudo o que lhe querem vender - a cada frase de Pedro Nuno Santos, acima de si, ainda na varanda a falar aos camaradas. Tudo se assemelha a um sketch, mas apenas durante alguns segundos. “É mais um ladrão para aturar”. Qual é o seu partido? “Todos. Voto em todos. Olhe o dinheiro que estão a gastar. Meu Deus…” O discurso do líder interrompe-o por momentos: “Nós estamos a caminho da vitória, para construirmos um país para todos.”

-       “Sim, sim”, responde “corrupto”; “já o Mário Soares dizia isso”.

A conversa intelectualiza-se. “O maior corrupto e ladrão continua a ser a nossa Justiça. Alguém é condenado? Porquê e como?” Não está a falar de António Costa. “Estou a falar de todos. Desde o pequeno até ao grande ladrão. Com 70 anos, já não aguento isto. Já vivi melhor quando tinha 8 ou 9 anos. Tinha uma escola, tinha disciplinas, tinha obrigações”, lamenta.

A manhã está a chegar ao fim. É tempo de o líder do PS subir a uma varanda. Quer mostrar aos gaienses que sabe como se faz campanha de rua. Cá em baixo, um homem destaca-se entre as centenas de presentes. Usa uma boina, devidamente ornamentada com um pin da bandeira de Portugal. Já foi socialista. Hoje é um saudosista.

Pedro Nuno ainda não desceu da varanda. Mentalmente, e até voltar a entrar para o banco de trás do mesmo BMW onde esta viagem começou, estará sempre a sul, de onde trouxe apenas uma medalha que lhe ofereceu Sebastião, para “nunca se esquecer dele”.

Foto @ Ricardo Castelo

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Qual é a primeira coisa que faz quando chega a casa/hotel da campanha? Fala com o seu filho ao telefone?
“Não, infelizmente não. Quando chego já está a dormir. Para já, tenho estado fora estes dias… felizmente vou agora a caminho de Lisboa e vou poder estar com ele, mas quando chegar a casa já estará dormir. Aliás, já deve estar a dormir desde as 21h30.”
É por isso que vai terminar a campanha em Lisboa e não no Porto, para poder festejar com ele depois?
“Não, não é por causa disso. Não foi pensado assim. Agora vou a Lisboa… foram cinco dias fora de casa e tem sido bem difícil, para mim e para ele. Felizmente, hoje vou dormir lá e amanhã de manhã estou com ele.”
Está a ler algum livro? Trouxe de Lisboa?
“Neste momento? Não. Só coisas da campanha, como o programa… Tenho uma medalha que me foi oferecida pelo meu filho, essa está comigo na minha mala. Sempre comigo. É uma medalha que ele me ofereceu para eu nunca me esquecer dele. Não era preciso, mas pronto. É um gesto dele.”

São 23h44, 4 de março, segunda-feira. E este líder pede licença para se ausentar.

Foto @ Ricardo Meireles

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